Hoje, no Cine Defensoria teremos a presença da Natália Becher que será uma das debatedoras sobre identidade de gênero

Conheça um pouco sobre a história dela!

ENTREVISTA:

Natália Becher, mulher trans

 

Por que você escolheu o nome Natália”?

“Vivemos numa sociedade onde é frequente que as travestis, os homens trans, as mulheres transexuais, as pessoas não-bináries e pessoas intersexo precisam escolher o próprio nome porque muitos pais rejeitam a pessoa trans em sua família. Pode ocorrer de os pais se recusarem até a escolher um nome para ela, e isso é devido a uma cultura machista, cisnormativa e LGBTfóbica que infelizmente ensina as pessoas a odiarem e negarem quem é diferente e rejeitar a diversidade ao invés de acolher e respeitar. E isso é doloroso, pois ter uma recusa dos próprios pais a um nome é uma forma de violência, que diz “eu me recuso a reconhecer a sua existência, você não tem lugar nesta família”. Felizmente há muitas mães e pais que pensam além desta caixinha apertada do preconceito, que acolhem e respeitam os seus entes LGBT. E hoje vemos nascer cada vez mais unidades familiares onde o amor e o respeito predominam. Para as pessoas trans que têm mães e pais assim, o processo de transição não tem que ser necessariamente doloroso, pois desde o início a própria decisão da escolha do nome é algo que pode ser algo feito em família, conjuntamente. O nome Natália representa uma pequena esperança de mais famílias assim serem mais frequentes como consequência de minha jornada aqui”.

Você se considera referência par a pessoas?

“Honestamente, eu não sou referência, eu estou referência no momento. E isso ocorre porque infelizmente haviam poucas pessoas trans com voz perante a sociedade brasileira, e até perante os próprios pares. Posso citar que antes de meu ingresso no ativismo, no solo capixaba somente tive conhecimento de duas moças (a Deborah Sabará e a Vanilly Borghi) que conseguiam atuar no empoderamento de pessoas trans. Isso é um sinal que antes as pessoas trans não existiam e não queriam fazer uma diferença positiva na sociedade? Não, de forma nenhuma. Isso apenas denota a invisibilidade da população trans e quer dizer que historicamente houveram muitos processos e ‘barreiras” que impediam que pessoas trans pudessem atingir seu potencial perante a sociedade e como modelos de empoderamento. Graças a pioneiras como a Vanilly e a Deborah que já deram a cara à tapa e desbravaram o preconceito é que outras pessoas puderam se erguer depois com obstáculos menos cruéis em seu caminho. O preconceito ainda existe, mas gradualmente ele vai sendo desconstruído. Sou uma mulher privilegiada por poder percorrer o meu caminho agora, e sei que futuramente outras pessoas poderão se beneficiar do ativismo que fazemos agora”.

Você considera a população, no geral, ainda muito preconceituosa em relação ao transgênero?

“As pessoas cis são aquelas que quando nascem, os médicos olham para a sua anatomia e lhe atribuem um gênero (por causa do genital do bebê). Ao longo de suas vidas se essas pessoas percebem como pertencentes a este gênero que te foi atribuído, ela é cisgênero! A imensa maioria das pessoas na sociedade são cis, sejam homens cis ou mulheres cis. O preconceito da sociedade ainda naturaliza apenas as possibilidades de vivências cisgêneras e (ainda) considera como abjetas as vivências transgêneras, por exemplo a vivência de uma mulher trans como eu”.

Faz utilização de hormônios?

“Sim, a reposição hormonal é algo que tanto as mulheres cis quanto as travestis, as mulheres transexuais e as pessoas trans femininas podem necessitar fazer uso em algum momento da vida por motivos de saúde. Lembremos que saúde envolve não apenas ausência de doenças e enfermidades, mas também o bem-estar físico, social e mental. E a autoimagem corporal é questão de saúde também! Como qualquer questão que envolva a saúde, é importante que uso de hormônios seja feito com orientação profissional. Médicos são necessários para avaliar a saúde com os exames apropriados, orientar sobre os riscos, os efeitos colaterais, acompanhamento e uso adequado de hormônios”.

O que você espera do debate no CineDefensoria?

“Pretendo aprender mais (sempre!) e no processo de aprendizado, poder fornecer também uma troca, deixar meus dois cents de reflexão e experiência no exercício da empatia. E assim, eu torço para que isso ajude as pessoas que ouvirem minha voz, que possam refletir e se tornarem multiplicadoras de conhecimentos também, pois somente com todas as pessoas se esforçando juntas (seja você de uma minoria seja de um grupo majoritário na população) é que acho que podemos construir agora uma sociedade melhor com mais empatia, cidadania e respeito à Diversidade humana. Se podemos ensinar a odiar, também podemos ensinar a amar e a respeitar”.

Mais Informações:

02/02 – Edição do projeto CineDefensoria, com a exibição do documentário “SOMOS: um webdoc sobre identidade de gênero”, seguida de debate sobre o tema.

LOCAL: Auditório do Núcleo da Defensoria Pública de Vila Velha (auditório Araceli Cabrera Crespo), a partir de 13h30.

Por Raquel de Pinho